Município da Covilhã
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09-01-2024

DA COVILHÃ PARA O MUNDO DO LUXO

Nome desconhecido do grande público, a Mepisurfaces faz produtos metálicos de altíssima precisão que marcam presença em áreas tão exigentes como a moda, a relojoaria ou a ourivesaria. Da pequena empresa familiar que começou numa garagem já resta pouco. A Mepisurfaces faz agora parte de um grande grupo internacional, mas mantém o rigor e a capacidade de inovação que a tornaram um caso de sucesso internacional.

Começou a funcionar numa garagem, mas não é nenhuma empresa de informática e também não tem sede em Silicon Valley, mas na Covilhã. O que era uma pequena empresa familiar, que abriu portas em 2004 com quatro ou cinco pessoas, é hoje uma das maiores empregadoras do concelho e uma empresa exportadora a viver um crescimento exponencial. O momento de viragem deu-se em 2013, com a aquisição por um grande grupo internacional de artigos de luxo e a consequente criação da Mepisurfaces. O que até aí era uma empresa de polimento de metais, com cerca de 50 trabalhadores, expandiu a sua atividade para assumir todas as fases de produção, de “fio a pavio”: Maquinação, polimento, galvanização e montagem final do produto. 


O rápido crescimento das encomendas, levou a empresa a inaugurar, no início de 2023, uma nova fábrica, no Parque Industrial do Tortosendo, com capacidade para acolher os mais de 400 trabalhadores atuais. A empresa continua num processo “ativo de contratação” e o novo edifício já foi desenhado a pensar na expansão da força de trabalho. 


Construída de raiz, a nova fábrica representa um investimento de cerca de 7,5 milhões de euros e permite dimensionar os processos de forma mais eficiente, duplicando a área dedicada à produção. As novas instalações, para além de permitirem o funcionamento contínuo durante sete dias por semana e 24 horas por dia, reforçam o compromisso ambiental e social da empresa. A produção passou a ser alimentada através de painéis solares e investiu-se numa moderna estação de tratamento de resíduos industriais, garantindo que se respeitam os afluentes.


“A automatização não é uma substituição direta de operadores, mas uma especialização. Talvez precise de menos operadores, mas preciso de mais engenheiros”.


Tivemos o privilégio de desenhar uma fábrica do zero. Todas as zonas de produção e comunicação entre zonas foram desenhadas já a pensar numa indústria 4.0, que é o nosso objetivo, permitindo a passagem e partilha de informação”, garante Rogério Cruz, o diretor-geral da empresa. 

Operando num mercado em que há exigência máxima dos clientes no controlo de qualidade do produto e prazos de entrega curtíssimos, a empresa tem entre os segredos do sucesso a capacidade de adaptação às mudanças do mercado e a resposta ao elevado padrão de exigências dos clientes. Segundo Rogério Cruz, a importância do trabalho em equipa e da colaboração com outras unidades do grupo FM Sycrilor Industries é essencial para que a empresa se mantenha atualizada e alinhada com as melhores práticas do setor: “Ao termos fábricas em França e Suíça, com processos similares ao nosso, com quem partilhamos informação semanal ou mesmo diariamente, deixamos de ser uma fábrica isolada e passamos a fazer parte de um grupo”.

AUTOMATIZAÇÃO E “MESTRES DO POLIMENTO”

Inserida num mercado muito específico - o dos artigos de luxo em áreas como a ourivesaria, relojoaria ou moda - a Mepisurfaces trabalha exclusivamente com metais nobres, como o ouro, paládio e espato, utilizando um processo químico sensível e permanentemente monitorizado, conhecido como galvanoplastia. A precisão deste processo, que consiste no banho de metais preciosos dado às peças, não se mede em milímetros, mas em micrómetros, uma unidade de medida mil vez mais pequena do que um milímetro! 

Um impressionante nível de precisão que, pese embora a crescente automação dos processos, ainda assenta nos “verdadeiros mestres” do polimento manual, que trabalham na fábrica a fazer tarefas que exigem “um conhecimento adquirido ao longo dos anos”, destaca Rogério Cruz. A dificuldade é gerir o equilíbrio entre esse conhecimento com uma força de trabalho em rápida expansão, conciliando a juventude na empresa com a experiência dos mestres. Até por isso, a empresa não aceita a premissa de que a automação vai diminuir a importância e a necessidade de trabalhadores. 

“Cada vez mais investimos em máquinas. Estas permitem-nos uma automatização de processos, cadência e estabilidade do processo produtivo muito superiores. Com operadores existe sempre uma flutuação a que uma máquina é imune. Mas, tendo mais máquinas, e máquinas diferentes, temos necessidade de mais operadores e com valências mais diversificadas”, diz Rogério  Cruz. Para o diretor geral da Mepisurfaces, “a automatização não é uma substituição direta de operadores, não pode ser entendida assim, é uma especialização. Talvez precise de menos operadores, mas preciso de mais engenheiros”. 

A crescente atenção ambiental e social dos consumidores, que valorizam produtos que se distinguem nestas áreas, tem levado a empresa a estudar alternativas mais sustentáveis do que os metais de luxo, as quais “poderão vir a aparecer nos próximos tempos”. “Não é fácil”, admite Rogério Cruz, pois têm de manter a elevada durabilidade e atratividade que distinguem os metais preciosos. 

AS VANTAGENS DO INTERIOR DO PAÍS 

Numa empresa que adapta “em casa” as máquinas necessárias para o seu processo de produção e desenha toda a cadeia industrial de produtos de altíssima precisão, o protocolo de cooperação com a Universidade da Beira Interior é uma peça chave na expansão da empresa. A Mepisurfaces oferece estágios profissionais e apoia estudantes na elaboração das suas teses finais, procurando atrair e reter talento para suprir as necessidades específicas do negócio. “Apesar da elevada oferta, nem sempre conseguimos encontrar todos os engenheiros necessários na  região”, confessa Rogério Cruz, aludindo a necessidades muito específicas que às vezes precisam de colmatar. 

No entanto, a qualidade de vida existente na Covilhã tem atraído um crescente número de profissionais e a ideia de ir viver para o interior não assusta, “muito pelo contrário”. A pandemia foi o momento de viragem e de consolidação dessa tendência, adianta o diretor-geral da empresa, existindo desde aí muitas pessoas que se mudaram de armas e bagagens para o interior do país para mudar para um estilo de vida mais recatado e em contacto com a natureza. A trajetória da Mepisurfaces, que deverá fechar 2023 com um volume de negócios de 22 milhões de euros face aos 16 milhões de 2022, é um exemplo inspirador do dinamismo empresarial e qualificação hoje presentes na Covilhã.


“A qualidade de vida na Covilhã tem atraído cada vez mais profissionais e a ideia de viver no interior não assusta, “muito antes pelo contrário”.